A descoberta oficial, como um sistema propriamente dito, foi em 2013, mas foram 24 anos de recorrentes descobertas fantásticas, iniciadas em 1988, por um grupo de cientistas de diferentes pontos do mundo, liderados pelo químico e pesquisador Búlgaro - Israelense, Dr. Raphael Mechoulan, considerado o “Pai da Cannabis”, trabalhando em conjunto com um único objetivo:

Entender o motivo pelo qual uma única planta poderia tratar tantas patologias. Quais seriam os mecanismos de ação no nosso organismo, para uma grandeza de benefícios como esta? Por que os compostos desta planta teriam capacidade de agir com tanta efetividade em sintomas tão variados e muitos de difícil manejo?

Estas perguntas movimentaram este grupo de estudiosos em busca de respostas concretas, era fundamental entender a ação dela no organismo. E depois de uma somatória de esforços o quebra-cabeça foi se montando.

Primeiramente descobriram um receptor (CB1) que era ativado pelo canabinoide delta-9-tetrahidrocanabinol, que se encontrava espalhado por diversas áreas do corpo e muito concentrado no sistema nervoso central. Anos depois descobriram um neurotransmissor (Anandamida) que se ligava a estes receptores assim como o canabinoide, algo como uma chave que se encaixa em uma fechadura, e que estava relacionado ao equilíbrio de diversas funções fisiológicas.

Na sequência descobriram mais um receptor (CB2), espalhado por diversas partes do organismo, incluindo sistema imune, metabólico, pele, órgãos.. Depois outro neurotransmissor ainda mais relevante (2AG), que também se ligava aos receptores como “chave e fechadura” e os can@binoides faziam o mesmo que este também.

E estas descobertas não paravam, um complexa rede foi se desvendando, até que em 2013 foi possível formatar o mecanismo de ação desta rede e estabelecer este sistema, no caso, “o maior sistema do corpo humano”, pois ele se encontra espalhado por todo organismo, interagindo com todos os demais sistemas e a sua função central é a homeostase (equilíbrio) do organismo.

O sistema endocanabinoide (S.E.C.) é um sistema formado por uma vasta rede de sinais químicos e receptores celulares que estão distribuídos pelo nosso cérebro e corpo. Sua principal função é regular e equilibrar as principais funções corporais.

Em cada tecido, o sistema canabinoide realiza diferentes tarefas, mas o objetivo é sempre o mesmo: a homeostase, ou seja, o equilíbrio perfeito do corpo com todas as nossas funções perfeitas.

Esse enorme sistema é composto por dois principais receptores que são:

• CB1: presente no sistema nervoso central, órgãos, gônadas e vísceras
• CB2: presente no sistema nervoso central, no sistema ósseo e imunológico

Os receptores canabinoides operam similarmente como um sistema de chave-fechadura, no qual os receptores são a fechadura e os endocanabinoides são como a chave, sendo produzidos sob demanda na região do corpo que estiver em desequilíbrio.

Esses receptores estão presentes em todo o corpo, embutidos nas membranas celulares e os pesquisadores estimam que eles sejam mais numerosos que qualquer outro sistema receptor, tornando o S.E.C o maior sistema do corpo.

Quando os receptores canabinoides são estimulados, ocorre uma variedade de processos fisiológicos. No caso dos receptores CB1, por exemplo, eles agem no cérebro como guardas de trânsito para controlar os níveis e a atividade da maioria dos outros neurotransmissores. É assim que eles regulam os processos fisiológicos, aumentando ou diminuindo a atividade de qualquer sistema que precise ser ajustado. Sempre visando a homeostase.

Outro elemento fundamental do S.E.C são os endocanabinoides, ao se ligarem com os receptores eles modulam todos os sistemas do corpo humano, regulando ou prevenindo desbalanços. Os endocanabinoides mais famosos são a Anandamida, palavra que significa felicidade em sânscrito (uma língua antiga da região da Índia). e o 2-AG. Eles se encontram distribuídos pelo corpo realizando as ligações com os seus receptores, também são encontrados na intersecção dos vários sistemas do corpo, permitindo a comunicação entre diferentes tipos de células.

No caso de uma lesão, por exemplo, o S.E.C. pode diminuir a liberação de ativadores do tecido lesionado, estabilizando a célula nervosa para evitar a liberação de substâncias pró-inflamatórias.

Vale ressaltar que com o envelhecimento do organismo vamos diminuindo a síntese destas moléculas, e assim começam as desordens nos mais variados sistemas do corpo humano, originando as patologias. Muitos distúrbios e doenças possuem como origem a desregulação do S.E.C.

O mais impressionante da natureza desse sistema é que os fitocanabinoides que estão na Cannabis medicinal, como o THC (delta-9-tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), assim como os demais, possuem o mesmo poder regulatório que os endocanabinoides.

Sendo assim, os fitocanabinoides atuam como uma suplementação das nossas moléculas endógenas e obter a regulação que o organismo está necessitando no momento.

Portanto vemos que os compostos da Cannabis medicinal são capazes de substituir os endocanabinoides produzidos por nosso organismo e modular o maior sistema do corpo humano, evidenciando a enorme importância terapêutica que a planta possui em nossa saúde e como ela é capaz de atuar no tratamento de centenas de patologias.

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