Cannabis e Dor Crônica

1 – Dor Crônica

Dor crônica é aquela que persiste por mais de 3 meses, e pode perdurar por anos. Também pode persistir por mais de um mês após a resolução da lesão ou problema que originalmente causou a dor, ocorrer e desaparecer novamente por meses a anos.

A S.B.E.D (Sociedade Brasileira do Estudos da Dor) define a dor como “uma experiência angustiante associada a uma lesão tecidual atual ou potencial com componentes sensoriais, emocionais, cognitivos e sociais”. Estima-se que pelo menos 37% da população brasileira sinta dor de forma crônica.

A dor fisiológica é um reflexo protetor do organismo, para evitar uma injúria ou dano tecidual. Frente à lesão tecidual a dor patológica providenciará condições para a cicatrização.

O componente fisiológico da dor é chamado nocicepção (que é o sentido que permite que você sinta dor).  Pode ser considerado como uma cadeia de três-neurônios, com o neurônio de primeira ordem originado na periferia e projetando-se para a medula espinal, o neurônio de segunda ordem ascende pela medula espinal e o neurônio de terceira ordem projeta-se para o córtex cerebral que percebe o estímulo doloroso

ETAPAS DA SENSIBILIDADE A DOR (NOCICEPÇÃO):

 Transdução 

Impulso doloroso (mecânico, térmico ou químico) é percebido pelos nociceptores (neurônio de primeira ordem) e transformado em potencial de ação.

Transmissão

Impulso é conduzido pelo nervo periférico até o corno posterior da medula espinal (neurônio de segunda ordem) e segue a via ascendente até chegar no CDME (corno dorsal da medula espinal).

Modulação

No CDME (corno dorsal da medula espinal) o impulso é modulado antes de chegar ao SNC.

Tipos:

1 - Dor nociceptiva ou somática

É a dor que surge devido a uma lesão ou inflamação dos tecidos da pele, o que é detectado pelos sensores do sistema nervoso como uma ameaça, e persiste enquanto a causa não for resolvida.

Possíveis causas: Corte ,Queimadura, Pancada, Fratura, Entorse, Tendinite, Fibromialgia, Infecção, Contraturas musculares.

2 - Dor neuropática

Dor que acontece por disfunção do sistema nervoso, seja no cérebro, medula ou nervos periféricos. É comum que surja na forma de queimação, agulhadas ou formigamento.


3 - Dor mista ou inespecífica

É a dor que é causada tanto por componentes da dor nociceptiva e neuropática, ou por causas desconhecidas.

Possíveis causas: cefaléia / enxaqueca, hérnia de disco, câncer, vasculite, osteoartrose (que pode atingir diversos locais como joelhos, coluna ou quadril).

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Sintomas:

Além da dor, os pacientes apresentam também:

  • Insônia
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Perda de peso
  • Cansaço Extremo
  • Diarréia/Constipação
  • Diminuição da libido

Diagnóstico:

É feito através da história clínica do paciente (sintomas + exame físico) associado algumas vezes a exames de imagem/laboratorial.

Tratamento Convencional:

O tratamento para dor crônica pode variar de acordo com o tipo e intensidade da dor, podendo ser recomendado:

2 - Cannabis e Dor Crônica

Os Canabinoides THC (delta-9-tetrahidrocanabinol) e CBD (Canabidiol) exercem papel fundamental no controle da dor crônica, eles atuam no Sistema Endocanabinoide, especificamente nos receptores CB1 e CB2, que estão espalhados por todo organismo (S.N.C e outros sistemas do   nosso corpo). 

O THC e o CBD quando combinados apresentam excelente efeito antinociceptivo (analgésico), antiinflamatório, relaxante muscular, também atuam como antidepressivo e ansiolítico, isto demonstra que a cannabis não vai atuar apenas de forma direta na patologia apresentada, apenas no aspecto físico reduzindo a dor, mas ela também vai proporcionar uma melhora no contexto geral da doença, pelo fato de estabilizar padrões emocionais / psicológicos, equilibrando assim o organismo por um todo.

O mecanismo de ação dos canabinoides ocorre pela modulação do processo álgico, eles possuem a capacidade de bloquear ou inibir a transmissão dos impulsos nociceptivos (dolorosos) em diversos níveis,  nos neurônios sensoriais periféricos (nociceptores) e também a nível medular e cerebral, equilibrando o desbalanço entre neurotransmissores  que estão em excesso e causam dor (glutamato,aspartato,adrenalina e cortisol) e os que estão em falta e inibem a dor (endorfina, dopamina, GABA, serotinina).

SHARON e colaboradores (2018) realizaram um estudo com 50 especialistas em dor em Israel, 95% destes prescrevem a cannabis para o tratamento de dores crônicas, 63% responderam que a eficácia da cannabis é de moderada a alta no manejo das dores crônicas intratáveis, enquanto apenas 2 (5%) responderam que a planta é significativamente prejudicial. Ao perguntar sobre os efeitos colaterais, 56% destes afirmam que se encontra apenas efeitos colaterais leves ou sem efeito, 81% dos entrevistados sentem que não foram treinados para o uso da cannabis em suas especializações.

Em 2016, um estudo da Universidade de Michigan publicado no Journal of Painshowed, mostrou que a cannabis melhora a qualidade de vida, reduz o consumo de opiáceos (morfina, tramadol) em uma média de 64% e diminui os efeitos colaterais de outros medicamentos.

Outro recente estudo publicado em 2020 nos E.U.A pelo renomado médico pioneiro nos estudos da Cannabis Medicinal Dr. Dustin Sulak, avaliou o uso da cannabis medicinal em pacientes com dor crônica, em uso regular de opioides. Durante pelo menos 3 meses, mais de 500 pacientes utilizaram cannabis em combinação aos medicamentos opioies previamente prescritos para tratar a dor crônica. 

O estudo demonstrou que:

  • 40,4% dos respondentes interromperam o uso
  • 45,2% relataram alguma diminuição na utilização
  • 13,3% não realizou mudanças no uso da substância
  • 1,1% aumentou a ingestão
  • quase metade (48,2%) descreveu uma redução de 40 a 100% da dor
  • 80% relatou melhora na capacidade funcional e 87% na qualidade de vida

De acordo com os estudos científicos e a prática clínica, não restam dúvidas que a cannabis medicinal proporciona em um contexto geral uma melhor qualidade de vida para os pacientes que sofrem de dor crônica.

Referências:

BRITCH, S. C. Cannabidiol-Δ9-tetrahydrocannabinol interactions on acute pain and locomotor activity. Drug Alcohol Depend. v. 175,p. 187-197, 2017. CROFFORD, L. J. Chronic Pain: Where the Body Meets the Brain.Transactions of the American Clinical and Climatological Association. v. 126, p. 167-183, 2015. 

ULUGÖL, A. The Endocannabinoid System as a Potential Therapeutic Target for Pain Modulation. Balkan Med J. v. 31, p. 115-20, 2014. HILL KP, PALASTRO MD, JOHNSON B et al. Cannabis and pain: a clinical review, Cannabis and Cannabinoid Research, v.2, n.1, p. 96–104, 2017. 

JOHNSON, J.R.; BURNELL-NUGENT M.; LOSSIGNOL, D. et al. Multicenter, double-blind, randomized, placebo-controlled, parallel-group study of the efficacy, safety, and tolerability of THC:CBD extract and THC extract in patients with intractable cancer-related pain. J Pain Symptom Manage. v. 39, n. 2, p. 167-179, 2010. 

KOVIC, S. V; SREBRO, D; VUJOVIC, K. S. et al. Cannabinoids and Pain: New Insights From Old Molecules. Front. Pharmacol. v. 9 p. 1259, 2018.

A Survey on the Effect That Medical Cannabis Has on Prescription Opioid Medication Usage for the Treatment of Chronic Pain at Three Medical Cannabis Practice Sites, 2020 Dec 2, Kevin M Takakuwa , Dustin Sulak 

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33409086/

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